quinta-feira, junho 16, 2011

Deixa que eu te ame em silêncio - Affonso Romano de Sant'anna



Deixa que eu te ame em silêncio
Não pergunte, não se explique,
deixe que nossas línguas se toquem, e as bocas
e a pele falem seus líquidos desejos.

Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se o amor e a vida
fosse um discurso
de impronunciáveis emoções.


Affonso Romano de Sant´Anna

Delírio - Olavo Bilac




Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...


Delírio - Olavo Bilac

Travessia - Fernando Pessoa




Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos...

Fernando Pessoa

quarta-feira, junho 08, 2011

Sofrido (Mario de Andrade)


"Escuta as árvores fazendo a tempestade berrar. Valoriza contigo estes instantes em que a dor, o sofrimento, feito vento, são conseqüências perfeitas das nossas razões verdes, da exatidão misteriosíssima do ser".

Não se pode dominar a dor escondendo-a, ou se escondendo dela. Ela faz parte da vida. Se olharmos a nossa volta, podemos perceber que ela está presente de várias formas. Mesmo que desejemos que o sofrimento não se apresente, ainda com mais força ele se apresenta. Isso porque não podemos ir contra a natureza das coisas. É uma tolice imaginar a perfeição como a faculdade de não enxergar o sofrimento. A perfeição não tem nada a ver com isso.

Ver perfeitamente é compreender as coisas como elas são. Muitas vezes tendemos a ver a felicidade como uma conjugação de circunstâncias favoráveis, na qual haja a menor parcela de sofrimento possível.

Baseando-nos nisso, então, olhamos para nós mesmos, e para os outros e julgamos se temos ou não motivos para nos acreditarmos felizes. Porém, considerando-se que somos responsáveis, em maior ou menor grau, por todo o sofrimento que nos ocorre, podemos constatar que essa crença, se não é totalmente falsa, omite boa parte da verdade.

A dor tem uma razão de ser: o alcance de uma compreensão maior sobre as implicações metafísicas e éticas do fato de se estar vivo. Enquanto esta consciência não floresce, a dor persiste.

Contudo, existem dois tipos de sofrimento: aquele causado pela nossa própria ignorância e aquele por causa da ignorância dos outros. Esse segundo tipo é mais um lamento por aqueles que "não sabem o que fazem", ou seja, que desconhecem que o mal que praticam provoca sofrimento futuro para si mesmos. Está é a dor das almas puras e dos santos. O sofrimento não existe simplesmente para que nós desejemos que ele não exista. Isso não teria sentido.

A tradição budista sintetiza bem isso através das "Quatro Nobres Verdades". A primeira delas fala sobre a existência do sofrimento; a segunda, afirma que todo sofrimento nasce do desejo, inclusive do de não sofrer; a terceira, diz que o sofrimento se extingue com a extinção do desejo; e a quarta, aponta o caminho de oito passos para a cessação do desejo.

Quem desperdiça o seu tempo tentando se esconder do próprio sofrimento e fugindo da dor dos outros, sem meditar sobre as razões das suas dores e sem procurar minimizar os sofrimentos alheios, naquilo que for possível, não está sabendo aproveitar o sofrimento. Porque, quando ajudamos as pessoas que estão sofrendo, a nossa própria dor diminui.

Gibran, falando da dor, disse que ela é "a amarga porção com a qual o médico que está em vós cura o vosso Eu doente".

Confiai, portanto, no médico, e bebei seu remédio em silêncio e com tranqüilidade. Porque sua mão, embora pesada e dura, é guiada pela suave mão do Invisível.

Se, por um lado, a dor martiriza e lascina; por outro, ela humaniza e santifica.

No sofrimento, o homem se solidariza com o seu próximo, compadecendo-se das chagas e trazendo-o para mais perto de si. Não vai aqui nenhuma apologia ao sofrimento, mas apenas a lembrança de que, se ele for corretamente assimilado, irá se constituir numa lição que não precisa ser repetida.

Nas palavras sensatas do Mestre Eckhart:
"Nada é mais amargo do que o sofrer, e nada é mais doce do que o ter sofrido. Aos olhos dos homens, o que mais desfigura o corpo é o sofrer; aos olhos de Deus, o que mais embeleza a alma é o ter sofrido".

Mario de Andrade

Página


Deus nos concede, a cada dia,
uma página de vida nova no livro do tempo.
Aquilo que colocarmos nela,
corre por nossa conta.

Chico Xavier

segunda-feira, junho 06, 2011

Viver ou Juntar Dinheiro?





Por Max Gehringer.

Recebi uma mensagem muito interessante de um ouvinte da CBN e peço licença para lê-la na íntegra, porque ela nem precisa dos meus comentários. Lá vai:

"Prezado Max meu nome é Sérgio, tenho 61 anos, e pertenço a uma geração azarada. Quando eu era jovem as pessoas diziam para escutar os mais velhos, que eram mais sábios, agora me dizem que tenho de escutar os jovens porque são mais inteligentes.

Na semana passada eu li numa revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico. E eu aprendi muita coisa. Aprendi por exemplo, que se eu tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, durante os últimos 40 anos, eu teria economizado R$ 30.000,00. Se eu tivesse deixado de comer uma pizza por mês teria economizado R$ 12.000,00 e assim por diante. Impressionado peguei um papel e comecei a fazer contas, e descobri para minha surpresa que hoje eu poderia estar milionário.

Bastava eu não ter tomado os cafés que eu tomei, não ter feito muitas das viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que eu comprei, e principalmente não ter desperdiçado meu dinheiro, em itens supérfluos e descartáveis.

Ao concluir os cálculos percebi que hoje eu poderia ter quase R$ 500.000,00 na conta bancária. É claro que eu não tenho este dinheiro. Mas se tivesse sabe o que este dinheiro me permitiria fazer?

Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar com itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que eu quisesse e tomar cafezinhos à vontade. Por isso acho que me sinto feliz em ser pobre. Gastei meu dinheiro com prazer e por prazer, porque hoje com 61 anos não tenho mais o mesmo pique de jovem, nem a mesma saúde, portanto viajar, comer pizzas e cafés não fazem bem na minha idade, e roupas hoje não vão melhorar muito o meu visual!

E recomendo aos jovens e brilhantes executivos, que façam a mesma coisa que eu fiz. Caso contrário eles chegarão aos 61 anos com um monte de dinheiro, mas sem ter vivido a vida".

No mínimo, para pensar...

"Não eduque o seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz.
Assim, ele saberá o valor das coisas, não o seu preço"