segunda-feira, outubro 03, 2011

O Teu Riso



Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

sexta-feira, setembro 16, 2011

Tomara






Tomara



Que a tristeza te convença

Que a saudade não compensa

E que ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama

Tece a mesma antiga chama

Que não se desfaz



E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo

Como nunca mais





(Vinícius de Morais)

quinta-feira, junho 16, 2011

Deixa que eu te ame em silêncio - Affonso Romano de Sant'anna



Deixa que eu te ame em silêncio
Não pergunte, não se explique,
deixe que nossas línguas se toquem, e as bocas
e a pele falem seus líquidos desejos.

Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se o amor e a vida
fosse um discurso
de impronunciáveis emoções.


Affonso Romano de Sant´Anna

Delírio - Olavo Bilac




Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...


Delírio - Olavo Bilac

Travessia - Fernando Pessoa




Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos...

Fernando Pessoa

quarta-feira, junho 08, 2011

Sofrido (Mario de Andrade)


"Escuta as árvores fazendo a tempestade berrar. Valoriza contigo estes instantes em que a dor, o sofrimento, feito vento, são conseqüências perfeitas das nossas razões verdes, da exatidão misteriosíssima do ser".

Não se pode dominar a dor escondendo-a, ou se escondendo dela. Ela faz parte da vida. Se olharmos a nossa volta, podemos perceber que ela está presente de várias formas. Mesmo que desejemos que o sofrimento não se apresente, ainda com mais força ele se apresenta. Isso porque não podemos ir contra a natureza das coisas. É uma tolice imaginar a perfeição como a faculdade de não enxergar o sofrimento. A perfeição não tem nada a ver com isso.

Ver perfeitamente é compreender as coisas como elas são. Muitas vezes tendemos a ver a felicidade como uma conjugação de circunstâncias favoráveis, na qual haja a menor parcela de sofrimento possível.

Baseando-nos nisso, então, olhamos para nós mesmos, e para os outros e julgamos se temos ou não motivos para nos acreditarmos felizes. Porém, considerando-se que somos responsáveis, em maior ou menor grau, por todo o sofrimento que nos ocorre, podemos constatar que essa crença, se não é totalmente falsa, omite boa parte da verdade.

A dor tem uma razão de ser: o alcance de uma compreensão maior sobre as implicações metafísicas e éticas do fato de se estar vivo. Enquanto esta consciência não floresce, a dor persiste.

Contudo, existem dois tipos de sofrimento: aquele causado pela nossa própria ignorância e aquele por causa da ignorância dos outros. Esse segundo tipo é mais um lamento por aqueles que "não sabem o que fazem", ou seja, que desconhecem que o mal que praticam provoca sofrimento futuro para si mesmos. Está é a dor das almas puras e dos santos. O sofrimento não existe simplesmente para que nós desejemos que ele não exista. Isso não teria sentido.

A tradição budista sintetiza bem isso através das "Quatro Nobres Verdades". A primeira delas fala sobre a existência do sofrimento; a segunda, afirma que todo sofrimento nasce do desejo, inclusive do de não sofrer; a terceira, diz que o sofrimento se extingue com a extinção do desejo; e a quarta, aponta o caminho de oito passos para a cessação do desejo.

Quem desperdiça o seu tempo tentando se esconder do próprio sofrimento e fugindo da dor dos outros, sem meditar sobre as razões das suas dores e sem procurar minimizar os sofrimentos alheios, naquilo que for possível, não está sabendo aproveitar o sofrimento. Porque, quando ajudamos as pessoas que estão sofrendo, a nossa própria dor diminui.

Gibran, falando da dor, disse que ela é "a amarga porção com a qual o médico que está em vós cura o vosso Eu doente".

Confiai, portanto, no médico, e bebei seu remédio em silêncio e com tranqüilidade. Porque sua mão, embora pesada e dura, é guiada pela suave mão do Invisível.

Se, por um lado, a dor martiriza e lascina; por outro, ela humaniza e santifica.

No sofrimento, o homem se solidariza com o seu próximo, compadecendo-se das chagas e trazendo-o para mais perto de si. Não vai aqui nenhuma apologia ao sofrimento, mas apenas a lembrança de que, se ele for corretamente assimilado, irá se constituir numa lição que não precisa ser repetida.

Nas palavras sensatas do Mestre Eckhart:
"Nada é mais amargo do que o sofrer, e nada é mais doce do que o ter sofrido. Aos olhos dos homens, o que mais desfigura o corpo é o sofrer; aos olhos de Deus, o que mais embeleza a alma é o ter sofrido".

Mario de Andrade

Página


Deus nos concede, a cada dia,
uma página de vida nova no livro do tempo.
Aquilo que colocarmos nela,
corre por nossa conta.

Chico Xavier

segunda-feira, junho 06, 2011

Viver ou Juntar Dinheiro?





Por Max Gehringer.

Recebi uma mensagem muito interessante de um ouvinte da CBN e peço licença para lê-la na íntegra, porque ela nem precisa dos meus comentários. Lá vai:

"Prezado Max meu nome é Sérgio, tenho 61 anos, e pertenço a uma geração azarada. Quando eu era jovem as pessoas diziam para escutar os mais velhos, que eram mais sábios, agora me dizem que tenho de escutar os jovens porque são mais inteligentes.

Na semana passada eu li numa revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico. E eu aprendi muita coisa. Aprendi por exemplo, que se eu tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, durante os últimos 40 anos, eu teria economizado R$ 30.000,00. Se eu tivesse deixado de comer uma pizza por mês teria economizado R$ 12.000,00 e assim por diante. Impressionado peguei um papel e comecei a fazer contas, e descobri para minha surpresa que hoje eu poderia estar milionário.

Bastava eu não ter tomado os cafés que eu tomei, não ter feito muitas das viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que eu comprei, e principalmente não ter desperdiçado meu dinheiro, em itens supérfluos e descartáveis.

Ao concluir os cálculos percebi que hoje eu poderia ter quase R$ 500.000,00 na conta bancária. É claro que eu não tenho este dinheiro. Mas se tivesse sabe o que este dinheiro me permitiria fazer?

Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar com itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que eu quisesse e tomar cafezinhos à vontade. Por isso acho que me sinto feliz em ser pobre. Gastei meu dinheiro com prazer e por prazer, porque hoje com 61 anos não tenho mais o mesmo pique de jovem, nem a mesma saúde, portanto viajar, comer pizzas e cafés não fazem bem na minha idade, e roupas hoje não vão melhorar muito o meu visual!

E recomendo aos jovens e brilhantes executivos, que façam a mesma coisa que eu fiz. Caso contrário eles chegarão aos 61 anos com um monte de dinheiro, mas sem ter vivido a vida".

No mínimo, para pensar...

"Não eduque o seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz.
Assim, ele saberá o valor das coisas, não o seu preço"

quarta-feira, maio 11, 2011

O Homem que Perdoava




Há muitos anos atrás, vivia um homem que era capaz de amar e perdoar a todos que encontrava em seu caminho. Por causa disso, Deus enviou um anjo para conversar com ele.

- Deus pediu que eu viesse visitá-lo, e lhe dizer que Ele quer recompensá-lo por sua bondade – disse o anjo. – Qualquer graça que desejar, lhe será concedida. Você gostaria de ter o dom de curar?

- De maneira nenhuma – respondeu o homem. – Prefiro que o próprio Deus selecione aqueles que devem ser curados.

- E que tal, trazer os pecadores para o caminho da Verdade?

- Isso é uma tarefa de anjos como você. Eu não quero ser venerado por ninguém, e ficar servindo de exemplo o tempo todo.

- Eu não posso voltar para o céu sem ter lhe concedido um milagre. Se não escolher, será obrigado a aceitar um.

O homem refletiu um pouco, e terminou respondendo:

- Então, eu desejo que o Bem seja feito por meu intermédio, mas sem que ninguém perceba – nem eu mesmo, que poderei pecar por vaidade.

E o anjo fez com que a sombra daquele homem tivesse o poder de cura, mas só quando o sol estivesse batendo em seu rosto. Desta maneira, por onde passasse, os doentes eram curados, a terra voltava a ser fértil, e as pessoas tristes recuperavam a alegria.

O homem caminhou muitos anos pela Terra, sem jamais se dar conta dos milagres que realizava, porque – quando estava de frente para o sol, a sombra estava sempre nas suas costas. Desta maneira, pode viver e morrer sem ter consciência da própria santidade.


Texto retirado do blog do Paulo Coelho

segunda-feira, abril 25, 2011

Um conto de Khalil Gibran




Eu estava andando nos jardins de um asilo de loucos, quando encontrei um jovem rapaz, lendo um livro de filosofia.

Por seu jeito, e pela saúde que mostrava, não combinava muito com os outros internos.
Sentei-me ao seu lado, e perguntei:

-O que você está fazendo aqui?

Ele me olhou surpreso. Mas, vendo que eu não era um dos médicos, respondeu:

-É muito simples. Meu pai, um brilhante advogado, queria que eu fosse como ele. Meu tio, que tinha um grande entreposto comercial, gostaria que eu seguisse seu exemplo. Minha mãe desejava que eu fosse a imagem de seu adorado pai. Minha irmã sempre me citava o seu marido como exemplo de um homem bem-sucedido. Meu irmão procurava treinar-me para se um excelente atleta como ele.

E o mesmo acontecia com meus professores na escola, o mestre de piano, o tutor de inglês – todos estavam convencidos e determinados que eram o melhor exemplo a seguir. Ninguém me olhava como se deve olhar um homem – mas como se olha no espelho”.

Desta maneira, eu resolvi internar-me neste asilo. Pelo menos, aqui eu posso ser eu mesmo


por Khalil Gibran

terça-feira, abril 05, 2011

Astronauta Lírico - Vitor Ramil



Vou viajar contigo essa noite
Conhecer a cidade magnífica
Velha cidade supernova
Vagando no teu passo sideral

Quero alcançar a cúpula mais alta
Avistar da torre a via-láctea
Sumir ao negro das colunas
Resplandecer em lâmpadas de gás

Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...
A lua que ao te ver parece grata
Me aceita com a forma de um sorriso
Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...

Quero perder o medo da poesia
Encontrar a métrica e a lágrima
Onde os caminhos se bifurcam
Flanando na miragem de um jardim

Quero sentir o vento das esquinas
Circulando a calma do meu íntimo
Entre a poeira das palavras
Subir na tua voz em espiral

Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...
A lua que ao te ver parece grata
Me aceita com a forma de um sorriso
Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...

Vou viajar contigo essa noite
Inventar a cidade magnífica
Desesperar que o dia nasça
Levado em teu abraço sideral

Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo....

"Astronauta Lírico"
(Vitor Ramil)

Caridade




Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. - E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.

A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; - não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade

(S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, vv. 1 a 7 e 13 do ESE)

segunda-feira, abril 04, 2011

Qualquer Caminho



"Qualquer Caminho"
(Márcio Borges) música de Lô Borges

Um dia eu era menino
Nos prédios de Belo Horizonte
Nas ruas de Copacabana
Três Pontas, Chile e Bahia.
Mas meu coração não contava
Crescer na cidade vazia.

Eu nunca ia sozinho
Trazia caminhos no ombro
Botina suja de estrelas
E o olho sujo de assombro
Colhendo o que eu tinha de novo
Plantando o que eu era de velho.

E meu coração se afogava
No vinho que eu bebia
E o choro que derramava...
Sabia, sabia, sabia.

Sonhava sonhos de lata
Cidade na sua agonia
Cidade na sua agonia

sexta-feira, abril 01, 2011

A vida



...A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já terminou o ano!
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida!
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada
e inútil das horas.

Desta forma, eu digo:

Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá,
será desse tempo que infelizmente não voltará mais."


(Mário Quintana)

quarta-feira, março 30, 2011

Preto Velho - Secos & Molhados



Aquele preto, tão preto
Co´aquela barba branca, tão preta
E aquele olhar tão meigo
De quem espera ganhar
Um sorriso incolor

"Preto Velho" - Secos & Molhados
Composição: João Ricardo

quarta-feira, março 02, 2011

Das Utopias




Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

"Das Utopias", Mário Quintana
Img: Henri Matisse

Meu Sonho (Cecília Meireles)



Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Cecília Meireles - Meu Sonho
Img: Lilith - She who is Free

domingo, fevereiro 20, 2011

Inquietude




Sou voraz não me apego
ao abrigo da alma

Sou o corpo o incêndio
só o fogo me acalma

Maria Teresa Horta, Inquietude - Poesia Reunida

O cheiro da sombra das flores



Dá-me um bocadinho do teu amor todos os dias
Não mo dês todo hoje que amanhã vou precisar dele outra vez
eu sei conheço-me bem
e nesse aspecto sou exactamente como o resto da humanidade
preciso de ser amado todos os dias
só espero não morrer muito velhinho para que o teu amor me
[dure até ao fim da vida

João Negreiros - o cheiro da sombra das flores

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Poemas de amor - Pablo Neruda




É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,

Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.

Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.

Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda - Poemas de Amor
Img: Walking Away - Samuel Durkin

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Dois Lobos



Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse:
- Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.
Um é Mau: É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego.
O outro é Bom - É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
- Qual lobo vence?

O velho índio respondeu:
- Aquele que você alimenta.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Três fósforos acesos




Três fósforos acesos
um a um durante a noite.
O primeiro para ver teu rosto,
O segundo para ver teus olhos e
O último para ver tua boca.
E a escuridão inteirinha para lembrar tudo isso
Estreitando-te em meus braços.

Jacques Prévert

Para meu coração basta teu peito





Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.

E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

Pablo Neruda