segunda-feira, abril 25, 2011

Um conto de Khalil Gibran




Eu estava andando nos jardins de um asilo de loucos, quando encontrei um jovem rapaz, lendo um livro de filosofia.

Por seu jeito, e pela saúde que mostrava, não combinava muito com os outros internos.
Sentei-me ao seu lado, e perguntei:

-O que você está fazendo aqui?

Ele me olhou surpreso. Mas, vendo que eu não era um dos médicos, respondeu:

-É muito simples. Meu pai, um brilhante advogado, queria que eu fosse como ele. Meu tio, que tinha um grande entreposto comercial, gostaria que eu seguisse seu exemplo. Minha mãe desejava que eu fosse a imagem de seu adorado pai. Minha irmã sempre me citava o seu marido como exemplo de um homem bem-sucedido. Meu irmão procurava treinar-me para se um excelente atleta como ele.

E o mesmo acontecia com meus professores na escola, o mestre de piano, o tutor de inglês – todos estavam convencidos e determinados que eram o melhor exemplo a seguir. Ninguém me olhava como se deve olhar um homem – mas como se olha no espelho”.

Desta maneira, eu resolvi internar-me neste asilo. Pelo menos, aqui eu posso ser eu mesmo


por Khalil Gibran

terça-feira, abril 05, 2011

Astronauta Lírico - Vitor Ramil



Vou viajar contigo essa noite
Conhecer a cidade magnífica
Velha cidade supernova
Vagando no teu passo sideral

Quero alcançar a cúpula mais alta
Avistar da torre a via-láctea
Sumir ao negro das colunas
Resplandecer em lâmpadas de gás

Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...
A lua que ao te ver parece grata
Me aceita com a forma de um sorriso
Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...

Quero perder o medo da poesia
Encontrar a métrica e a lágrima
Onde os caminhos se bifurcam
Flanando na miragem de um jardim

Quero sentir o vento das esquinas
Circulando a calma do meu íntimo
Entre a poeira das palavras
Subir na tua voz em espiral

Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...
A lua que ao te ver parece grata
Me aceita com a forma de um sorriso
Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo...

Vou viajar contigo essa noite
Inventar a cidade magnífica
Desesperar que o dia nasça
Levado em teu abraço sideral

Eu, astronauta lírico em terra
Indo a teu lado, leve, pensativo....

"Astronauta Lírico"
(Vitor Ramil)

Caridade




Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. - E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.

A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; - não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade

(S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, vv. 1 a 7 e 13 do ESE)

segunda-feira, abril 04, 2011

Qualquer Caminho



"Qualquer Caminho"
(Márcio Borges) música de Lô Borges

Um dia eu era menino
Nos prédios de Belo Horizonte
Nas ruas de Copacabana
Três Pontas, Chile e Bahia.
Mas meu coração não contava
Crescer na cidade vazia.

Eu nunca ia sozinho
Trazia caminhos no ombro
Botina suja de estrelas
E o olho sujo de assombro
Colhendo o que eu tinha de novo
Plantando o que eu era de velho.

E meu coração se afogava
No vinho que eu bebia
E o choro que derramava...
Sabia, sabia, sabia.

Sonhava sonhos de lata
Cidade na sua agonia
Cidade na sua agonia

sexta-feira, abril 01, 2011

A vida



...A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já terminou o ano!
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida!
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada
e inútil das horas.

Desta forma, eu digo:

Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá,
será desse tempo que infelizmente não voltará mais."


(Mário Quintana)